quarta-feira, novembro 17, 2010

Artigo de Opinião: Esperança na Poupança

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Celebrou-se no passado dia 31 de Outubro o Dia Mundial da Poupança, que foi decretado em 1924 durante o 1º Congresso Internacional de Economia, em Milão, tendo sido criado, já naquela altura, com o intuito de alertar os consumidores para a necessidade de disciplinar gastos e de amealhar alguma liquidez, de forma a evitar situações de rotura financeira e sobre-endividamento. Este dia acaba por passar despercebido a muita gente por coincidir com o Dia do Halloween.

Nos últimos tempos o tema da poupança, tanto privada como pública, tem inundado os meios de comunicação nacionais, realçando assim a sua actualidade e relevância para os portugueses. Ao longo do último ano, com o agravar das finanças públicas por força do excessivo endividamento, acompanhado pelo aumento das taxas de juro da dívida pública portuguesa, a discussão em volta da poupança passou a ser um dos principais temas de debate.

A palavra poupança aparece em qualquer manual, de uma forma genérica, como sendo a parte do rendimento disponível que não é gasto em consumo imediato, funcionando como fonte de financiamento para futuros investimentos, desempenhando um papel fundamental em qualquer economia. De facto, por um lado, funciona como estabilizador automático, permitindo que as reduções no rendimento, nomeadamente em alturas de crise, tenham um impacto reduzido ao nível do consumo dos vários agentes económicos. Mas também, possibilitando que os recursos poupados sejam canalizados, através de diversos mecanismos, para investimento. Ganhando assim especial relevo, em fases de crise económica, a existência de um equilíbrio saudável entre a poupança e o consumo.

Em Portugal, nas últimas décadas, pode-se identificar como tendência macroeconómica a diminuição, em alguns períodos até de forma significativa, da taxa de poupança das famílias. Num ambiente em que se criou a percepção de rápido e fácil enriquecimento, incentivando o recurso ao crédito em detrimento da poupança. Taxas de juro muito baixas e por um período prolongado de tempo levaram as famílias a endividarem-se entusiasticamente, alterando os seus hábitos baseados na poupança e passando a viver segundo a filosofia que o povo costuma chamar de “chapa ganha, chapa gasta”.

Surge assim a necessidade de reorientar as políticas para que sejam proporcionados aos diversos agentes económicos, sobretudo às famílias, melhores formas de gerir as suas finanças pessoais. Sendo essencial a aposta na formação dos consumidores de modo a aumentar a literacia financeira. Um sinal claro da falta de cultura financeira da população portuguesa é a grande discrepância, ao nível da preparação, existente entre consumidores e as várias instituições financeiras. Ou seja, quem empresta dinheiro está muito melhor preparado e informado do que quem pede emprestado.

Tornando-se assim essencial que se aproveite a crise para repensar as prioridades de consumo de forma a melhorar as poupanças. Contudo, não deve descorar-se o forte impacto que as medidas orçamentais adoptadas terão no orçamento familiar, verificando-se que cada vez mais uma percentagem significativa dos rendimentos são gastos em produtos e serviços essenciais, diminuindo a margem disponível para poupança. Não se pode esperar que as pessoas poupem cada vez mais enquanto se aumenta radicalmente os impostos, diminui-se os salários e a taxa de desemprego atinge valores absolutamente recordes.

Necessariamente, recai sobre o estado uma forte responsabilidade de esclarecimento e formação das pessoas. Estudos revelam que a educação para a poupança e para a criação de hábitos saudáveis de consumo dos mais jovens é fundamental. Adicionalmente, contrariamente ao que tem acontecido, o estado deve apostar numa política fiscal mais leve de estímulo à poupança, nomeadamente por via dos benefícios fiscais e de redução dos impostos sobre juros. O estado não deve olhar para a poupança das pessoas como fonte adicional de receita, por via da carga fiscal, mas sim como uma fonte estratégica de financiamento e de desenvolvimento, levando à diminuição da dependência externa e aumentando a riqueza do país. Parafraseando Benjamin Franklin: “A vida faz a riqueza depender fundamentalmente de duas palavras: trabalho e poupança”.

Pedro Barroso Magalhães
Analista Financeiro e Vereador na Câmara de Murça

in A Voz de Trás-os-Montes em 11 de Novembro de 2010

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