sexta-feira, janeiro 14, 2011

Artigo de Opinião: Ano 2011 - Roleta Russa

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Esta altura do ano é, por excelência, o momento ideal para fazer o balanço com vista à projecção do novo ano que entretanto começou. 2010 acabou por se revelar como o ano em que passamos do sonho à realidade. Há precisamente um ano, anunciava-se o fim da crise em Portugal, para a qual havíamos sido arrastados pela conjuntura internacional, anunciando-se tempos de prosperidade, recuperação económica e criação de emprego.

No entanto, depressa se tornou claro que o país se apresentava numa preocupante situação de debilidade financeira e com um défice orçamental gigantesco. Iniciava-se assim um ciclo de sucessivos Planos de Estabilidade e Crescimento (PEC), cada um mais austero que o anterior, sem haver forma de conseguir inverter esta tendência de degradação. Transitámos assim para o ano de 2011 envoltos numa grande crise económica, financeira, orçamental e até social. Crise cuja origem pode ter sido internacional mas que se agudizou e prolongou dada a conjuntura nacional.

Consequentemente, este ano que agora começa vai ser muito exigente, de grandes dificuldades (à semelhança do que irá acontecer necessariamente nos anos seguintes), em que não há margem para erros. Sendo que tudo isto tem de ocorrer vencendo o desalento e a revolta causados por esta conjuntura de austeridade. Os organismos e os mercados financeiros internacionais, mas, acima de tudo, os portugueses não darão mais o benefício da dúvida aos governantes portugueses. Já foram pedidos sacrifícios às pessoas e às empresas como nunca antes no passado. Agora exigem-se resultados e rápidos.

No entanto, Portugal continua a não conseguir convencer os investidores de que tem estrutura e um plano suficiente para ultrapassar a crise e, consequentemente, de que não precisará de ajuda externa. Os juros da dívida pública portuguesa nos mercados primário e secundário continuam a bater recordes históricos, apenas aliviando de máximos com a intervenção no mercado por parte do Banco Central Europeu (BCE), tornando-se assim insustentáveis a médio-longo prazo.

Simultaneamente, alguma imprensa especializada internacional anuncia que alguns países europeus, com o intuito de tentarem travar os efeitos de contágio, têm pressionado as autoridades portuguesas a rapidamente accionarem a ajuda por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Fundo de Estabilização Europeu (FEE). Ou seja, como referido pelo Wall Street Jounal, “Portugal está sentado numa cadeira a ferver”.

A possibilidade de Portugal ter que assumir a incapacidade de resolver internamente os seus problemas é o sinal que tudo falhou. É o sinal que todos os sacrifícios foram em vão (ou quase) e que todas estas medidas de austeridade que vimos sofrendo não passaram de analgésicos, que apenas adiaram a resolução objectiva dos problemas. Significa assim que, aos olhos dos restantes países da Zona Euro e da restante Comunidade Internacional, Portugal falhou no cumprimento dos seus objectivos.

Este cenário, sempre indesejável, de recurso ao Fundo Monetário Internacional e ao Fundo de Estabilização Europeu representa um falhanço político, de consequências inimagináveis, dos nossos governantes, havendo assim a necessidade de apurar a responsabilidade de quem nos liderou. Consequentemente, não haverá condições para que os mesmos que levaram o país a uma situação de insustentabilidade financeira sejam os que vão liderar a recuperação. Nessa altura, terá de iniciar-se um novo ciclo de renovação em Portugal, em que os portugueses terão o direito de escolher o plano, as estratégias, as medidas e as pessoas que nos conduzirão a sair desta crise em que nos encontramos. Ganham assim relevo, necessariamente, as próximas eleições Presidenciais na medida em que o novo Presidente da República deverá ser chamado a exercer um papel activo no sentido de garantir o regular funcionamento das instituições democráticas.

Pedro Barroso Magalhães
Analista Financeiro e Vereador na Câmara de Murça

in A Voz de Trás-os-Montes em 13 de Janeirode 2011

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