
Durante qualquer processo eleitoral, e por vezes mesmo até fora dele, é habitual assistirmos a todo o tipo de promessas e garantias por parte dos políticos. É-nos, muitas vezes, oferecido um panorama paradisíaco, de facilidades e prosperidade. Um país digno de sonhos… Mas, como acontece com a maioria dos sonhos, depois caímos na realidade. Rapidamente a prosperidade se transforma em recessão, as facilidades em dificuldades e o paraíso num inferno. Assim aconteceu em Portugal durante o último ano.
Ainda há poucos meses nos convenciam de que a crise havia terminado e que nos esperava um período de expansão económica e de convergência com o resto da Europa. Mas rapidamente, como por magia, tudo mudou. Afinal, e num espaço de apenas um ano, foi necessário implementar três planos de estabilidade e crescimento (PEC), cada um mais restritivo e penalizador que o anterior. Em poucos meses, e contrariamente ao anunciado em campanha, assistimos ao anúncio de dois aumentos do IVA, das taxas de IRS, acompanhados por cortes em subsídios, abonos e outras subvenções sociais. Sacrifícios como, há várias décadas, não havia memória.
Mas poderá a realidade portuguesa ter mudado assim tanto e tão rapidamente? É verdade que hoje, como nunca no passado, os dias vivem-se com uma intensidade e velocidade desmesuradas. Mas tamanha alteração da conjuntura portuguesa não poderia realizar-se de forma tão drástica e em tão pouco tempo. Por certo, desde há muito era, ou devia ser, do conhecimento dos dirigentes políticos a debilidade das contas públicas portuguesas e os riscos em que incorríamos. Mas por que será que a política tende a ter uma relação difícil com a verdade?
A desilusão e a desconfiança resultantes de promessas não cumpridas e de verdades maquilhadas em nada contribuem para a credibilização da classe política, sendo um factor determinante para a alienação dos cidadãos na gestão da coisa pública, não favorecendo o sentimento de proximidade, confiança e lealdade que deveria caracterizar a relação entre os eleitores e os seus eleitos.
É chegada a hora de que, uma vez por todas, os políticos consigam falar simples e claro aos eleitores. Só assim se poderá inverter esta tendência de afastamento entre as pessoas e aqueles que escolhem para seus representantes. Já chega de pedir sacrifícios aos cidadãos sem justificar cabalmente como foi possível chegarmos a este ponto. Os nossos governantes têm que tornar claro se todo o esforço que tem vindo a ser feito tem consequências práticas e é feito por uma razão e com um objectivo.
Esta sim seria a melhor forma de homenagearmos a República em Portugal – e seus fundadores – que este ano comemora o seu centenário.
Pedro Barroso Magalhães
Analista Financeiro e Vereador na Câmara de Murça
Analista Financeiro e Vereador na Câmara de Murça
in A Voz de Trás-os-Montes em 28 de Outubro de 2010
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